Revista Brasileira de Direito Aeroespacial

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Laranja Madura na Beira da Estrada ...

Mario Cesar S. Moreira
Presidente da empresa M. Moreira & Consultores Associados

Se por um lado os ventos da flexibilização da Indústria do Transporte Aéreo no Brasil vem trazendo benefícios para nós, consumidores, por outro vem trazendo também dúvidas e alguma confusão.

¾ Como pode uma tarifa, no mesmo vôo, custar R$ 200, R$ 300, ou até mesmo R$ 500.

¾ Estarei sendo enganado quando pago 500 ? Ou sou um abençoado pelos deuses do consumo quando pago 200, enquanto outros passageiros do mesmo vôo pagam 500 ?

Na lide de consultoria aeronáutica esta situação me vem sendo freqüente e veementemente exposta.

Afinal de contas dita a boa razão e a lógica que produtos iguais, numa mesma praça, devam ter preços semelhantes.

Tomemos por exemplo um aparelho de TV.

Será improvável, numa mesma praça, termos diferenças no varejo superiores a 10% de uma loja para outra ou na mesma loja num período de, digamos, um mês.

Por uma outra ótica se a companhia aérea vende uma passagem por R$ 200 é porque ela pode praticar este preço e cobrar R$ 500 é uma desmesurada extorsão. Um atentado ao consumidor. Um absurdo, enfim !

Calma amigo leitor ! As coisas não são bem assim e a economia de transporte aéreo pode explicar esta situação com uma lógica razoável. Aliás os economistas, profetas do acontecido, sempre explicam.

Voltemos ao exemplo da nossa TV. Qual será a diferença básica deste item, "enquanto produto" , para uma passagem aérea. ¾ Perguntinha chata, hein...?

É simples - uma TV pode ser estocada. A passagem aérea não. Você pode imaginar um depósito de assentos Rio/Salvador estocados para serem consumidos quando necessário ?

Esta é a chave da questão. O assento num vôo é um dos produtos mais perecíveis que existem. Ele é simplesmente efêmero. Após fechada a porta de um avião, todos os assentos vazios perecem. Esta perda tem que ser absorvida de alguma forma.

Até os anos oitenta este problema era resolvido de uma forma muito simples. Dividia - se o custo do vôo mais o lucro da empresa pela média dos assentos ocupados no trecho e esta era a tarifa daquele trecho. Isto quer dizer que tínhamos uma tarifa fixa e os próprios passageiros pagavam a conta dos assentos vazios. Isto, é, você pagava a sua passagem e também aquela dos que não viajaram !

Pelo ponto de vista da empresa a receita daquele vôo seria o equivalente a área da curva ab no gráfico abaixo.

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No entanto, a partir dos anos oitenta, verificou-se que esta lógica poderia ser aperfeiçoada considerando-se com mais cuidado a velha teoria do consumo. "O consumidor tende a maximizar satisfação minimizando custos"

O consumidor do transporte aéreo não foge a regra e o grau de satisfação de viajar de avião, num mesmo trecho, varia de consumidor para consumidor. Isto é, teremos consumidores que se satisfarão em viajar, por exemplo , do Rio para São Paulo por R$ 80 e não se satisfarão se a viajem custar R$ 120. Porém, com certeza, teremos consumidores que estarão satisfeitos ainda que pagando bem mais do que R$ 120.

A partir desta realidade, as companhias aéreas, considerando a "elasticidade a preços do consumidor", verificaram que uma maneira de ter menos assentos vazios em seus vôos seria oferecer opções de assentos pelo preço que cada consumidor estivesse disposto a pagar. Na média os vôos ficariam mais lotados e a receita média de cada vôo seria ampliada. Voltando ao nosso gráfico ele agora ficaria assim.

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A área delimitada por cd contém a área ab, isto é, a receita total do vôo fica maior .

Basicamente os conceitos aqui descritos elucidam a técnica de administração de receita (yield management) que agora vem sendo praticada pelas empresas nacionais. Na prática as empresas atuam como leiloeiras de seus assentos. As passagens de um determinado vôo são vendidas pelo "lance" que o amigo passageiro estiver disposto a dar.

É lógico que os primeiros lances serão mais baratos e os últimos mais caros.

Considerando esta realidade, a de um leilão, é que as situações de over book (assentos não disponíveis vendidos) e "no show" (passageiros que não comparecem ao embarque) devem ser analisadas. Se regras lógicas não forem estabelecidas todos perdem, as empresas e os passageiros.

Assim, meu amigo leitor, espero que ao comprar a sua próxima passagem possa estar mais claro para você o que esta por traz desta miríade de preços.

Cabe apenas uma recomendação, para maximizar sua satisfação, compre sempre sua passagem com a maior antecedência possível e ... não desconfie tanto da Laranja Madura ...

Bom vôo .

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